Crise entre Rússia e Ucrânia: os impactos no Brasil e no mundo

A Rússia há muito tempo se opõe aos movimentos da Ucrânia de aproximação com organizações europeias, tanto a OTAN quanto a União Europeia. O principal interesse do país atualmente é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se transforme em um integrante da OTAN, uma parceria tática de 30 nações. Pois, a Ucrânia faz fronteira com a União Europeia e a Rússia, além de ser um país que fez parte da República Soviética, tendo conexões sociais e culturais com a Rússia, e o russo sendo amplamente falado pelos ucranianos.


As duas nações têm raízes comuns no território eslavo oriental de Kievan Rus. Por essa razão, o presidente russo, Vladimir Putin, fala dos russos e ucranianos como "um só indivíduo". De qualquer forma, essas nações progrediram de forma independente por muito tempo, o que deu origem a dois idiomas e sociedades. Enquanto a Rússia estava se transformando em um império, a Ucrânia não conseguiu estabelecer seu próprio estado. No século XVII, grandes áreas da atual Ucrânia tornaram-se importantes para o Império Russo, e as regiões foram transformadas em regiões russas administrada por representantes nomeados por São Petersburgo, conforme indicado pela Enciclopédia Britânica. Daquele ponto até o século XX, a Rússia e a União Soviética (URSS) fizeram um programa de "russificação" para destruir a identidade ucraniana. Após a Revolução Russa de 1917 e o fim da Primeira Guerra Mundial, a Ucrânia tornou-se momentaneamente livre, até meados da década de 1920, quando se revelou importante para a União Soviética. Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, a nação foi anexada pela Alemanha, até que a Rússia Soviética recuperou o controle do país em 1944 e estendeu suas fronteiras para incorporar domínios tomados da Romênia, Polônia e Tchecoslováquia (atual República Tcheca). Em 1991, quando a União Soviética foi desmembrada, essa enorme área envolvida foi dividida em 15 repúblicas autônomas. Até 1991, a Ucrânia era uma das 15 repúblicas que formaram a União Soviética (URSS). O Parlamento ucraniano proclamou independência, aguardando um referendo em 1º de dezembro de 1991, que foi aprovado com 90% dos votos. Consequentemente, a Ucrânia aderiu à nova Comunidade de Estados Independentes, ao lado da Rússia e da Bielorrússia. A partir desse ponto, a Ucrânia voltou os olhos para a Europa e o interesse em ingressar na OTAN, uma parceria tática liderada pelas potências ocidentais.

Até hoje, Putin demonstra que considera a expansão da OTAN um perigo existencial, e a possibilidade de a Ucrânia aderir à coligação, um “ato hostil”, já que o presidente russo geralmente destaca, nos discursos, que acredita que as nações dos dois lados estão unidas socialmente, etimologicamente e politicamente. As pressões entre esses dois estados se expandiram no final de 2013 devido a uma aliança política e econômica com a União Europeia. Depois que o, então, presidente, favorável a Rússia, Viktor Yanukovych cancelou as negociações — sob pressão da Rússia — protestos violentos eclodiram em Kiev por um longo tempo. No momento em que os ucranianos depuseram o presidente, em meados de 2014, a Rússia, em março de 2014, anexou a Crimeia, uma península independente no sul da Ucrânia leal a Rússia, sob o pretexto de que estava protegendo seus interesses e as de outros residentes de língua russa, e apoiou separatistas que capturaram duas regiões importantes no leste do país. Daquele ponto em diante, os rebeldes têm lutado contra as forças ucranianas em uma disputa que deixou mais de 14.000 mortos. Na segunda-feira, 21 de fevereiro, o presidente russo, Vladimir Putin, fez um discurso informando que reconheceria as repúblicas separatistas de Luhansk e Donetsk, duas áreas da Ucrânia, o que desrespeitaria o acordo de 2015, além de agravar a crise atual. Pouco depois da declaração, Putin fez um pedido para que as tropas realizassem “funções de manutenção da paz” nas regiões. A OTAN e a União Europeia condenaram a decisão de Putin. O presidente dos EUA, Joe Biden, e outros líderes europeus alertaram que a Rússia enfrentaria consequências, como sanções econômicas, caso Putin prosseguisse com um ataque, que ocorreu em 24 de fevereiro.

Os relatórios levantam temores de consequências adversas na Europa e nos Estados Unidos, mas também entre as diferentes nações que acompanham as organizações políticas e empresariais dos dois países. O principal efeito significativo sentido no Brasil foi bom, com a queda do dólar. Nesta terça-feira, 22 de fevereiro, o caixa americano registrou sua quarta queda e fechou a R$ 5,0511. A redução é resultado não apenas da expansão da taxa Selic pelo Banco Central, mas somada à entrada de capitais desconhecidos no país em meio ao período de alto risco. Apesar das premissas dos especialistas financeiros de uma movimentação de recursos para setores de negócios mais seguros, o Brasil tornou-se atraente por sua capacidade de se transformar em um potencial fornecedor substituto de parte da mercadoria agrária produzido na Rússia e na Ucrânia. No entanto, os efeitos indiretos sobre o Brasil de um potencial conflito não são apenas bons. Esses impactos também podem afetar a economia brasileira com um aumento na inflação e alta nos preços do petróleo e seus derivados. A Rússia é atualmente um dos maiores produtores de petróleo do planeta, com uma capacidade de produção de mais de 10 milhões de barris por dia. O país é ainda o maior fornecedor de gás de petróleo da Europa, responsável por cerca de 40% do estoque absoluto do território. Apesar da hipótese real de um confronto, a imposição de sanções contra bancos, empresas e empresários russos poderia paralisar a produção e a exportação de commodities. No Brasil, o aumento do custo do barril de petróleo não significa apenas pagar mais pela gasolina, mas também por derivados do petróleo, como etanol e gás de cozinha. Além do petróleo, a Rússia também é o centro de exploração e produção de diversas outras commodities, como minérios e grãos. A exportação dessas mercadorias também pode ser prejudicada por sanções, prejudicando ainda mais as já abaladas cadeias globais de produção. Pois, poderia, simultaneamente, pressionar os preços devido ao estoque restrito e reforçar a onda de inflação mundial. O último impacto da inflação crescente é a diminuição do ritmo de desenvolvimento da economia brasileira. A crise também pode afetar a capacidade do Brasil de importar fertilizantes e insumos agrícolas, que ocupam o primeiro lugar na lista de itens importados da Rússia, e prejudicar o setor agrícola. A Rússia é a principal fonte de fertilizantes para o Brasil, tendo ocupado, em 2021, com cerca de 25% do volume total importado. Com bloqueios monetários, comprar esses itens se tornará impressionantemente mais complicado. Com as sanções ou mesmo a deficiência da capacidade de exportação russa, os fertilizantes ficam mais caros e o benefício para os fabricantes brasileiros cai, influenciando sua capacidade de continuar ampliando a oferta. O mercado interno em geral também pode ser afetado, mas de forma extremamente discreta.

Politicamente, o Brasil será impactado pela posição que assume nas reuniões no Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde o país tem uma cadeira não-permanente desde o início do ano. A prática brasileira em casos como este é o tempo todo manter uma posição 'não partidária', então, a princípio, imaginamos que o Brasil não se posicionaria, apesar da forma como as atividades russas tratam claramente de uma violação do direito internacional e da soberania da Ucrânia. Seja como for, como membro do Conselho de Segurança, a nação não pode ficar de fora do radar. O lugar que o Brasil assume a partir de agora impactará a percepção da comunidade mundial mais do que qualquer comentário feito pelo presidente Jair Bolsonaro durante sua visita a Moscou na semana passada. O Brasil deve adotar a posição mais imparcial, evitando movimentos contra a Rússia, como fez após o ataque da Crimeia em 2014. De qualquer forma, dada a gravidade da situação, pode ser que enfrentemos críticas e pressão dos Estados Unidos. Todos esses fatores externos e internos podem afetar o resultado das eleições marcadas para outubro. Conflitos geopolíticos costumam, na maioria das vezes, aumentar a vulnerabilidade da economia mundial e, subsequentemente, levar a um aumento na prevenção de riscos. Isso implica que vários financiadores podem querer realocar seus recursos para setores de negócios mais seguros, como os EUA ou o Japão, e deixar os mercados em desenvolvimento, como o Brasil. Independentemente disso, o que se vê, atualmente, no Brasil é um enorme fluxo de capital estrangeiro. Isso acontece basicamente pela alta da taxa Selic, impulsionada pelo Banco Central para tentar conter a alta dos preços, garantindo maiores lucros ​​para os investidores. Ao mesmo tempo, como um importante mercado de exportação de produtos, o Brasil também está atraindo organizações e investidores à procura de opções que não sejam a Rússia. Isso leva a uma queda no custo do dólar em relação ao real brasileiro. Consequentemente, o caixa americano terminou o dia no menor valor desde 1º de julho de 2021, quando fechou em R$ 5,0448.

Com a 'intervenção militar' da Rússia, apesar do financiamento das potências ocidentais, especialistas dizem que a Ucrânia seria superada pela Rússia no que diz respeito às forças armadas. Se uma guerra de fato eclodir, os especialistas estimam que até 5 milhões de indivíduos podem se tornar refugiados, além de milhares, mortos.

Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem. - Jean-Paul Sartre

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