A Rússia há muito tempo se opõe aos movimentos da Ucrânia de aproximação com
organizações europeias, tanto a OTAN quanto a União Europeia. O principal
interesse do país atualmente é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se
transforme em um integrante da OTAN, uma parceria tática de 30 nações. Pois, a
Ucrânia faz fronteira com a União Europeia e a Rússia, além de ser um país que
fez parte da República Soviética, tendo conexões sociais e culturais com a
Rússia, e o russo sendo amplamente falado pelos ucranianos.
Até hoje, Putin demonstra que considera a expansão da OTAN um perigo
existencial, e a possibilidade de a Ucrânia aderir à coligação, um “ato hostil”,
já que o presidente russo geralmente destaca, nos discursos, que acredita que
as nações dos dois lados estão unidas socialmente, etimologicamente e
politicamente. As pressões entre esses dois estados se expandiram no final de
2013 devido a uma aliança política e econômica com a União Europeia. Depois que
o, então, presidente, favorável a Rússia, Viktor Yanukovych cancelou as
negociações — sob pressão da Rússia — protestos violentos eclodiram em Kiev por
um longo tempo. No momento em que os ucranianos depuseram o presidente, em
meados de 2014, a Rússia, em março de 2014, anexou a Crimeia, uma península
independente no sul da Ucrânia leal a Rússia, sob o pretexto de que estava
protegendo seus interesses e as de outros residentes de língua russa, e apoiou
separatistas que capturaram duas regiões importantes no leste do país. Daquele
ponto em diante, os rebeldes têm lutado contra as forças ucranianas em uma
disputa que deixou mais de 14.000 mortos. Na segunda-feira, 21 de fevereiro, o
presidente russo, Vladimir Putin, fez um discurso informando que reconheceria
as repúblicas separatistas de Luhansk e Donetsk, duas áreas da Ucrânia, o que
desrespeitaria o acordo de 2015, além de agravar a crise atual. Pouco depois da
declaração, Putin fez um pedido para que as tropas realizassem “funções de
manutenção da paz” nas regiões. A OTAN e a União Europeia condenaram a
decisão de Putin. O presidente dos EUA, Joe Biden, e outros líderes europeus
alertaram que a Rússia enfrentaria consequências, como sanções econômicas, caso
Putin prosseguisse com um ataque, que ocorreu em 24 de fevereiro.
Os relatórios levantam temores de consequências adversas na Europa e nos
Estados Unidos, mas também entre as diferentes nações que acompanham as
organizações políticas e empresariais dos dois países. O principal efeito
significativo sentido no Brasil foi bom, com a queda do dólar. Nesta
terça-feira, 22 de fevereiro, o caixa americano registrou sua quarta queda e
fechou a R$ 5,0511. A redução é resultado não apenas da expansão da taxa Selic
pelo Banco Central, mas somada à entrada de capitais desconhecidos no país em
meio ao período de alto risco. Apesar das premissas dos especialistas
financeiros de uma movimentação de recursos para setores de negócios mais
seguros, o Brasil tornou-se atraente por sua capacidade de se transformar em um
potencial fornecedor substituto de parte da mercadoria agrária produzido na
Rússia e na Ucrânia. No entanto, os efeitos indiretos sobre o Brasil de um
potencial conflito não são apenas bons. Esses impactos também podem afetar a
economia brasileira com um aumento na inflação e alta nos preços do
petróleo e seus derivados. A Rússia é atualmente um dos maiores produtores de petróleo
do planeta, com uma capacidade de produção de mais de 10 milhões de barris por
dia. O país é ainda o maior fornecedor de gás de petróleo da Europa,
responsável por cerca de 40% do estoque absoluto do território. Apesar da
hipótese real de um confronto, a imposição de sanções contra bancos,
empresas e empresários russos poderia paralisar a produção e a exportação de
commodities. No Brasil, o aumento do custo do barril de petróleo não significa
apenas pagar mais pela gasolina, mas também por derivados do petróleo, como
etanol e gás de cozinha. Além do petróleo, a Rússia também é o centro
de exploração e produção de diversas outras commodities, como minérios e
grãos. A exportação dessas mercadorias também pode ser prejudicada por sanções,
prejudicando ainda mais as já abaladas cadeias globais de produção. Pois,
poderia, simultaneamente, pressionar os preços devido ao estoque restrito e
reforçar a onda de inflação mundial. O último impacto da inflação crescente é a
diminuição do ritmo de desenvolvimento da economia brasileira. A crise também
pode afetar a capacidade do Brasil de importar fertilizantes e insumos
agrícolas, que ocupam o primeiro lugar na lista de itens importados da Rússia,
e prejudicar o setor agrícola. A Rússia é a principal fonte de fertilizantes
para o Brasil, tendo ocupado, em 2021, com cerca de 25% do volume total
importado. Com bloqueios monetários, comprar esses itens se tornará
impressionantemente mais complicado. Com as sanções ou mesmo a deficiência da
capacidade de exportação russa, os fertilizantes ficam mais caros e o benefício
para os fabricantes brasileiros cai, influenciando sua capacidade de continuar
ampliando a oferta. O mercado interno em geral também pode ser afetado, mas de
forma extremamente discreta.
Politicamente, o Brasil será impactado pela posição que assume nas reuniões
no Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde o país tem uma cadeira
não-permanente desde o início do ano. A prática brasileira em casos como este é
o tempo todo manter uma posição 'não partidária', então, a princípio,
imaginamos que o Brasil não se posicionaria, apesar da forma como as atividades
russas tratam claramente de uma violação do direito internacional e da
soberania da Ucrânia. Seja como for, como membro do Conselho de Segurança, a
nação não pode ficar de fora do radar. O lugar que o Brasil assume a partir de
agora impactará a percepção da comunidade mundial mais do que qualquer
comentário feito pelo presidente Jair Bolsonaro durante sua visita a Moscou na
semana passada. O Brasil deve adotar a posição mais imparcial, evitando
movimentos contra a Rússia, como fez após o ataque da Crimeia em 2014. De
qualquer forma, dada a gravidade da situação, pode ser que enfrentemos críticas
e pressão dos Estados Unidos. Todos esses fatores externos e internos podem
afetar o resultado das eleições marcadas para outubro. Conflitos geopolíticos
costumam, na maioria das vezes, aumentar a vulnerabilidade da economia mundial
e, subsequentemente, levar a um aumento na prevenção de riscos. Isso implica
que vários financiadores podem querer realocar seus recursos para setores de
negócios mais seguros, como os EUA ou o Japão, e deixar os mercados em
desenvolvimento, como o Brasil. Independentemente disso, o que se vê,
atualmente, no Brasil é um enorme fluxo de capital estrangeiro. Isso acontece
basicamente pela alta da taxa Selic, impulsionada pelo Banco Central para
tentar conter a alta dos preços, garantindo maiores lucros para os
investidores. Ao mesmo tempo, como um importante mercado de exportação de
produtos, o Brasil também está atraindo organizações e investidores à procura
de opções que não sejam a Rússia. Isso leva a uma queda no custo do dólar em
relação ao real brasileiro. Consequentemente, o caixa americano terminou o dia
no menor valor desde 1º de julho de 2021, quando fechou em R$ 5,0448.
Com a 'intervenção militar' da Rússia, apesar do financiamento das potências ocidentais, especialistas dizem que a Ucrânia seria superada pela Rússia no que diz respeito às forças armadas. Se uma guerra de fato eclodir, os especialistas estimam que até 5 milhões de indivíduos podem se tornar refugiados, além de milhares, mortos.
Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem. - Jean-Paul Sartre
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