Sistema prisional brasileiro: modelo criado para ter reincidências

O Art. 10 da Lei de Execução Penal diz que “a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade”. Seguindo essa lei, profissionais procuram formas de implementar a ressocialização de detentos. O processo de ressocialização tem como objetivo reeducar pessoas privadas de liberdade para se adaptarem às leis da sociedade. Dessa forma, o prisioneiro terá condições de diminuir sua pena e sair do presídio com habilidades para conseguir um emprego. Entretanto, a ideia não está em vigor, uma vez que somente 18% da população carcerária trabalha.

A superlotação é um dos principais problemas do sistema penitenciário brasileiro. De acordo com o Ministério da Justiça, o Brasil tem 622.000 presos, mas apenas 371.000 vagas, tornando-se a quarta maior população carcerária do mundo. Algumas soluções para esse problema estão na combinação de sentenças alternativas - e mais curtas, dependendo do crime - e julgamentos mais ligeiros. Existem diversos presos aguardando julgamento, mas se o presídio é um lugar para a reabilitação, é preciso que não estejam lotados de pessoas que ainda não foram condenadas, ao passo que três em cada dez presos brasileiros esperam atrás das grades para ser julgados pelos crimes que cometeram. Os presos provisórios representaram 31,2% da massa carcerária no ano passado, e nesse ano correspondem a 31,9%. É um índice alto: são mais de 217 mil pessoas colocadas atrás das grades sem terem antes direito a um julgamento. Pegando exemplos de outros países, na Suécia 80% dos prisioneiros são condenados a menos de um ano, com juízes dando penas menores especialmente para crimes relacionados a drogas. Já o Estado americano do Oregon reduziu o tempo de prisão para quem comete infrações de menor gravidade, como falsidade ideológica e porte de maconha para consumo próprio. Outros estados dos Estados Unidos também vêm revendo penas mínimas e reclassificando infrações.

Segundo dados da Defensoria Pública do estado do Piauí, 70% dos que deixam a prisão acabam cometendo crimes novamente, demonstrando que a reincidência, voltar a praticar o crime, é muito presente no Brasil. A solução para esse problema seria o tratamento recebido pelos detentos, através de medidas socioeducativas e programas cognitivos-comportamentais baseados na teoria de aprendizagem social. Sendo assim, um encarceramento mais rígido aumenta as chances de um ex-prisioneiro voltar a cometer crimes, como demonstrado pelo relatório sobre reincidência do Departamento de Justiça dos Estados em 2007. A Noruega, por exemplo, segue o modelo da  "justiça restaurativa", a contrário da ideia da justiça punitiva-retributiva presente no Brasil. A prisão de segurança máxima de Halden, na Noruega, não tem grades nas janelas e cozinhas são equipadas com objetos pontiagudos, guardas e prisioneiros mantêm uma relação de amizade e as celas possuem TV de tela plana, mini refrigerador e banheiro privativo. Iniciativas parecidas também existem na Alemanha e na Holanda, onde prisioneiros não são obrigados a usar uniforme e tem um controle parcial de suas vidas, mas são a trabalhar e a estudar. Como observado, o sistema de justiça restaurativa foca em reparar os danos causados pelo crime em vez de punir pessoas, reabilitando os prisioneiros. Assim, o modelo da alfabetização compulsória dos detentos conseguiu reduzir de 50% para 5% a taxa de reincidência, na República Dominicana.  

Ainda há a falta de apoio da sociedade. No Brasil discursos políticos que ganham votos são aqueles que apelam para um endurecimento do combate ao crime. Depois de serem libertados da prisão, os ex-presidiários precisam reiniciar suas vidas e ainda precisam lidar com o preconceito da sociedade contra seus antecedentes criminais, porque muitos empregadores se sentem acanhados com o histórico. Como demonstrado na reportagem do programa Profissão Repórter, o Israel Gomes Pereira, de 27 anos, foi preso por dois assaltos, mas dois meses após o encontro com a equipe do Profissão Repórter, Israel continuava desempregado. Dirce Teodoro da Silva, que ficou oito anos presa, hoje recebe ajuda do instituto Humanitas360, que foi responsável pela organização de uma cooperativa de trabalho na Penitenciária Feminina Tremembé, no interior de São Paulo. Além de ajudar Dirce a encontrar um lugar, Humanitas360 também a ajudou a solicitar carteira de trabalho, carteira de identidade e outros documentos. O instituto também vende o crochê que Dirce aprendeu a fazer durante o tempo de reclusão. Portanto, é importante trabalhar muito para conscientizar as pessoas sobre como acolher essas pessoas. A ressocialização é benéfica do ponto de vista da sociedade e no ponto de vista governamental. Existem diversos tipos de tratamento para esse fim, focando na qualificação dessas pessoas, visando que elas estejam aptas a saírem do presídio habilitadas em alguma ocupação.  

Cursos profissionalizantes

Um dos métodos de tratamento mais populares para a ressocialização é a realização de cursos profissionalizantes. Feito em cooperação com empresas e instituições educacionais, os presos têm a oportunidade de aprender uma nova função e ainda ganhar dinheiro. Neste último caso, além da redução de pena, o dinheiro também será depositado em uma conta acessível ao detento no momento da saída da prisão ou por familiares.

Oficinas

São comuns as oficinas de crochê, carpintaria, música e outras oficinas de empresas ou pessoas físicas que desenvolvem projetos com o objetivo de ressocialização. Assim como os cursos profissionalizantes, essas oficinas são importantes para oferecer oportunidades aos presos depois de serem libertados da prisão.

Aulas de ensino básico

Embora tenhamos como foco a obtenção de qualificações por meio da qualificação profissional, uma forma de reintegração é a oferta de cursos de ensino fundamental e médio para os que interromperam os estudos. De modo geral, essas aulas podem ser ministradas por meio de programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) ou projetos voluntários.

Com isso em mente, o desenvolvimento de programas de apoio às pessoas privadas de liberdade é essencial para sua reintegração bem-sucedida na sociedade. Afinal, é preciso entender que a ressocialização ocorre ao mesmo tempo que a oportunidade se torna possível. Além disso, os profissionais de psicologia profissional desempenham um papel fundamental nessa mudança. O acompanhamento terapêutico, o apoio familiar e social é extremamente importante durante o encarceramento e após a saída. Ademais, também é importante entender as motivações desses cidadãos, seu histórico de vida e estímulo pessoal. Apesar de estarem na mesma situação, seus desejos são completamente diferentes.

Quem abre uma escola fecha uma prisão. - Victor Hugo

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