Após um ano de vacinação contra Covid: vidas salvas através da saúde

 A campanha de vacinação contra a Covid-19 levou pelo menos seis meses até que o Brasil realmente atingisse a capacidade de seu programa de imunização. A primeira vacinação contra a doença ocorreu em 17 de janeiro de 2021, logo após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizar o uso emergencial do Coronavac no Brasil, na enfermeira Mônica Calazans, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Um ano após o início da vacina contra a covid-19, o Brasil se aproxima de 70% da população com duas doses, enquanto 15% da população recebeu dose de reforço e cerca de 75% da população recebeu pelo menos a primeira dose da vacina de um dos imunizadores adquiridos pelo PNI (Programa Nacional de Imunização): AstraZeneca, CoronaVac, Janssen e Pfizer, segundo dados do painel Monitora Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e agora estão dando os primeiros passos para proteger crianças de 5 anos a 11 anos.

Em julho de 2021, após seis meses de campanha, apenas 20% da população brasileira havia recebido duas doses da vacina – em comparação com Estados Unidos, Grã-Bretanha e o vizinho Uruguai, que já haviam passado da metade de imunizados proporcionais até então. O país não começou a utilizar plenamente sua infraestrutura de vacinação até o final de julho, quando mais de 2 milhões de doses foram administradas em um único dia.  No semestre passado, as doses diárias se multiplicaram e a taxa de imunização superou a de outros grandes países. O grande balanço deste ano de campanha foi perceber os benefícios da vacinação em termos de hospitalização e mortalidade. A campanha resultou em uma queda significativa nas infecções, hospitalizações e mortes pela doença em 2021, tese reforçada por dados que mostram o domínio de não vacinados entre as vítimas da Covid em todo o mundo.

A diferença entre o atual aumento alarmante de casos e o aumento menos alarmante de hospitalizações é outra evidência impressionante. Temos uma variante circulando que tem de longe o maior impacto em termos de infecção. É uma variante que não poupa vacinados e infecta todo mundo. Mas as pessoas vacinadas raramente desenvolvem formas graves da doença, o que é uma grande vantagem de estar vacinado. No entanto, no aniversário de um ano da primeira dose, o país ainda enfrenta desafios no combate à pandemia. Alguns deles novos, como a propagação de uma variante mais transmissível, que embora as internações em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e os permanecem baixos, longe do auge da pandemia, ainda é preocupante devido as desigualdades regionais, e a estagnação da vacinação. No artigo “Como superar a estagnação da curva de cobertura vacinal de primeira dose contra covid-19 no Brasil?”, os pesquisadores Raphael Guimarães, Diego Xavier, Monica Magalhães e Raphael Saldanha, da Fiocruz ressaltaram que o crescimento da cobertura vacinal no país foi "próximo de zero", apesar de 84,86% da população brasileira ser elegível para vacinação, excluindo as crianças

É normal que as vacinações diminuam à medida que você se aproxima do limite do número de pessoas que podem ser vacinadas, mas mesmo assim os governos precisam desenvolver estratégias para expandir a cobertura e rastrear por que alguém não é vacinado. Em geral, as pessoas geralmente não as tomam por dois motivos: ou porque não querem - e então precisam entender melhor as vacinas - ou porque não têm acesso ao setor de saúde, o que provavelmente ocorre em Brasil. Embora tenha havido progresso com a vacinação nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, está enfrentando dificuldades nos estados do Norte e Nordeste. A adesão às vacinações no Brasil é excelente, graças à credibilidade do Programa Nacional de Imunizações estabelecido há mais de 40 anos, que garante cobertura universal ao calendário básico de vacinação do país. Neste sentido, é razoável supor que a estagnação do país tem mais a ver com a dificuldade de conseguir uma vacina do que com sua recusa. De fato, a cobertura vacinal é menor em áreas mais carentes e minorias étnicas. No Norte tem muitas populações ribeirinhas que ficam isoladas, às vezes a três dias de distância das unidades de saúde. É preciso pensar alternativas para alcançar essas pessoas. Caso contrário, não poderemos alavancar ainda mais a cobertura. E como algumas vacinas precisam ser armazenadas a -20ºC, alguns lugares precisam melhorar a estrutura de rede de para armazená-las.

Diante da estagnação da vacinação no Brasil, a imunização infantil é fundamental para aumentar o número de pessoas protegidas da covid-19, já que crianças de 5 a 11 anos representam cerca de 20 milhões de pessoas país. Entretanto, a imunização na faixa etária de 5 a 11 anos é a mais recente polêmica na luta contra a pandemia no Brasil. Embora a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e outras agências internacionais tenham aprovado o uso da vacina da Pfizer nesse grupo, o governo federal atrasou o processo, visto que os imunizantes pediátricos poderiam ter sido negociados desde que foi aprovado pelos reguladores norte-americanos em outubro passado, com a condição de que seriam comprados com a aprovação da Anvisa, levantando dúvidas sobre a segurança das doses pediátricas e promovendo uma consulta pública online. Parte da resistência vem de uma mudança no foco do combate: durante muito tempo, entendeu-se que as crianças não eram afetadas pelo vírus. No início de 2020, as populações mais afetadas, mortas e hospitalizadas eram os idosos e aqueles com comorbidades. Portanto, o foco inicial da vacinação foi atingir esses grupos. À medida que conseguiram isso e começaram a diminuir as restrições, as crianças passaram a ser o grupo mais exposto e desprotegido. Nesse caso, vacinar crianças é protegê-las da principal causa de morte infantil hoje e impedir que espalhem o vírus para outras pessoas que convivem com elas, principalmente quando retomamos o ano letivo. Ressalta-se, no entanto, que a oposição de Bolsonaro à medida e a iniciativa do Ministério da Saúde de uma consulta pública inédita sobre o assunto apenas prolongaram o início das imunizações e impediram que as crianças voltassem às aulas com pelo menos uma dose de vacina.

Outra questão que surge na fase atual da campanha é a periodicidade em que a vacina deverá ser administrada à população daqui para frente. Com a chegada da variante ômicron, estudos têm demonstrado que uma terceira dose de reforço é essencial para proteger a população. Com o tempo, a terceira dose deixará de ser considerada um reforço para ser incluída dentro de um esquema vacinal de três doses. O que sabemos sobre a história das doenças respiratórias é que, em algum momento, precisamos de uma vacina de reforço. De fato, se tal dose de reforço será permanente, aplicada anualmente em toda a população, dependerá da história natural da doença. Primeiro, seria preciso encerrar o regime de três doses em toda a população para ver como as reinfecções se seguem. Em seguida, conhecer a dinâmica do vírus para definir se os reforços vão ocorrer prioritariamente para populações específicas, como a vacina contra a gripe. Populações sabidamente menos responsivas a agentes imunológicos, como idosos e pessoas com comorbidades, podem necessitar de mais doses. Por fim, é necessário considerar o possível surgimento de novas variantes, sejam elas patogênicas ou não para o corpo. Agora é a hora de garantir a maior cobertura possível para frear a propagação do vírus e evitar o surgimento de novas variantes.

O Ministério da Saúde recomenda procurar atendimento médico diante de sintomas compatíveis com a Covid-19, como febre, tosse, dor de garganta ou coriza, com ou sem falta de ar.

A saúde é direito de todos e dever do estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. - Art. 196 da Constituição Federal do Brasil

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