Incentivo à vacinação: a obrigação do governo no combate à Covid-19

A pandemia do novo Coronavírus acentuou os aspectos dos governos de todo o mundo. Enquanto a crise nos Estados Unidos incentivou uma movimentação popular na esperança de um governo melhor, o Brasil vivenciou passeatas de apoio a um presidente que tem como discurso a crise sanitária global ser apenas uma gripezinha. De acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Jair Bolsonaro "cometeu crimes de responsabilidade contra a humanidade na gestão da pandemia", o que apenas ressalta seu descaso para com seu povo.


Há mais de 1 ano que o Brasil restringiu a conduta populacional como medida de contenção do avanço da Covid-19, agora, em 2021, já existe um recurso para prevenir os casos mais graves da doença. A vacinação não é um método definitivo, entretanto, é uma possibilidade de tornar a nova variante do Coronavírus familiar para o corpo humano, tal como a gripe. Contudo, a negligência do governo com o calendário de vacinação é comprovada pelo fato da campanha ter se iniciado tardiamente, assim como cita Dimas Covas, o diretor do Instituto Butantan. Além desta conjuntura, há também a falta de insumos para produção de vacinas da CoronaVac por conta dos ataques proferidos por Bolsonaro contra o governo chinês, sendo que esse é o fornecedor dos insumos.
A CPI da Covid-19 é uma comissão parlamentar que está investigando a conduta do governo federal durante a pandemia de Covid-19 no Brasil. Tal inquérito já apresentou diversas omissões e irregularidades por parte do Estado. O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, revelou que a primeira oferta de vacina foi realizada em julho de 2020. Entretanto, o que isso mudaria na situação brasileira atualmente? O Brasil teria iniciado a vacinação em dezembro de 2020, estando entre os primeiros países a iniciar sua campanha. Uma perspectiva positiva é a do Reino Unido, o primeiro país do ocidente a vacinar a população. Até o dia da publicação desta postagem, o Reino Unido já possuía  mais de 47% dos cidadãos totalmente vacinados. Em contrapartida, o Brasil só possui 11% dos habitantes vacinados.
Além disso, o Governo Federal deixou de negociar doses de vacinas com outras empresas privadas, como a Pfizer. De acordo com o vice-presidente da comissão do Senado, Randolfe, a Pfizer (empresa farmacêutica estadunidense) enviou 81 e-mails ao presidente Jair Bolsonaro, dos quais apenas 10% foram respondidos. Entre tais mensagens, haviam solicitações de colaboração para a produção de vacinas, soluções e um plano de compromisso no combate ao Coronavírus. Contudo, por irresponsabilidade governamental, Élcio Franco, braço direito do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, entre junho de 2020 e março de 2021, só tomou conhecimento das negociações com a Pfizer a partir de 6 de agosto. E realizou uma reunião no dia 11 de novembro, dois dias após a divulgação do êxito na fabricação da vacina da Pfizer.
Diversos apoiadores do atual governo federal, defendem que a falta de vacina foi provocada pelos outros Estados Nacionais, tendo em vista que muitos não forneceram insumos ao Brasil. Mas a pergunta permanece: que país gostaria de atrelar seu nome ao de um governo que tenta burlar as afirmações da ciência? Para o senador Eduardo Braga (MDB-AM), "ficou muito claro que nós não compramos as vacinas no momento que tínhamos que ter comprado por negacionismo, por falta de vontade política, por falta de decisão do governo que resolveu, por informações paralelas ou por convencimento próprio, apostar em uma imunização de rebanho que efetivamente não deu e não dará certo." 
Durante todo o ano de 2020 o presidente Jair Bolsonaro recusou-se a estabelecer medidas a níveis nacionais que reduzissem o avanço da Covid-19 no país. Esse posicionamento político refletiu também na campanha de vacinação brasileira. Sem esforços do governo federal para criar um calendário nacional unificado, a SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) acredita que, no pior dos casos, a população adulta estará completamente vacinada no final de outubro. Contudo, o Ministério da Saúde adquiriu um histórico de promessas não cumpridas e os estados do Paraná, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Tocantins, Rondônia, Roraima, Amazonas, Acre e Amapá preferiram ter cautela e não divulgar nenhum tipo de projeção. Enquanto alguns estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Maranhão, estão negociando e administrando as vacinas de forma independente, pois o Governo Federal negligenciou a saúde pública.
A polêmica mais recente da esfera Federal, foi a compra da vacina indiana Covaxin, por valor 1000% maior. O embaixador do Brasil na Índia, André Aranha Corrêa do Lago, apontou que uma dose da vacina custaria aproximadamente 1 dólar e 34 centavos, entretanto, o valor firmado em fevereiro de 2021 foi de 15 dólares. Há documentos que mostram que a compra da mesma foi feita às pressas, o que a um primeiro olhar pode demonstrar uma preocupação do governo para com sua população. Mas há nesta afirmação, uma contradição enorme, tendo em vista que não havia necessidade de grandes gastos na aquisição da imunizante indiana. No caso Covaxin, reside também a questão econômica do país. Em janeiro deste ano, o presidente afirmou que "o Brasil tá quebrado", e que ele "não consegue fazer nada". Então o que levou o governo Federal a pagar um absurdo valor por um contrato que já estava praticamente feito? 
No início de junho de 2021, o presidente da República lamentou as mortes por COVID-19, e enfatizou a importância da vacinação. Em um ano de pré-eleições, é viável para a cúpula bolsonarista que haja uma "maior preocupação com o povo brasileiro". Ainda assim, as declarações de Jair Bolsonaro que revelam sua radical "mudança de pensamento" sobre a eficácia da vacinação, e suas lamentações, não anulam a dura realidade vivida pelo país: 513 mil óbitos provocados não por Covid-19, mas sim, por negligência governamental. 

Nós não compramos a vacina porque o Brasil não quis. - Omar Aziz

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